A etimologia nossa de cada dia

Cu” vem de “culus”, que não é especificamente o ânus, mas inclui a região carnuda a ele adjacente, as nádegas. E “eco” é o mesmo de “ecologia”, “ecossistema”: o habitat, o domicílio.  Logo, cueca é, literalmente, “a casa do cu”.

“Cu”, nesse sentido de “o traseiro”, deu também origem a “recuar” (retroceder, andar para trás), “acuar” (encurralar), “cueiro” (pano que envolve o bebê da cintura para baixo) e “culatra” (o fundo do cano da arma de fogo). Lembrando que “encurralar” não tem nada a ver com o isso: deriva de “curral” (que tanto pode ser o lugar de guardar o gado quanto os carros – no caso, as bigas romanas).

Bunda” não vem do latim, mas do quimbundo “mbunda” (ou “muna”) e quer dizer bunda mesmo (e também quadris). Não tem nenhuma relação com “abundância”, que vem do latim “abundare” (“ab” = fora + “unda” = onda), ou seja o que transborda, que existe em grande quantidade, como as ondas no mar.

Nádega” é que vem do latim “natica”, mas não significa nada além de nádega mesmo.

Poupança” tem origem mais interessante, a mesma de “apalpar”: o latim “palpare”. Para saber se podia gastar, a pessoa apalpava a bolsa de moedas – daí “poupar” no sentido de “economizar”, “gastar com moderação”.

Propina” é de origem grega, formada por “pro” = a favor + “pinein” = beber. Ou seja, a boa e velha “cervejinha”, um trocado para se beber alguma coisa. (“Gorjeta” tem origem parecida: vem de “gurguis” = garganta, que também deu origem a gárgula, gargarejo, gargalo, gargalhada; gorjeta era uma propina para “molhar a garganta”). “Suborno” tem a ver com o ato de, furtivamente (“sub”), enfeitar (“ornar”) alguém, presenteando disfarçadamente.

“Corrupção” vem do latim  “corrumpere“ (destruir, estragar), que, por sua vez, deriva de “rumpere” (romper, quebrar, arrebentar).

Centrão” vem de “centro” – do latim “centrum” (a ponta seca do compasso), que, por sua vez, tinha vindo do grego “kentron” (ferrão, objeto pontiagudo”).

Supõe-se que “Chico” venha do latim “ciccus”, a membrana entre os grãos da romã”, uma coisa pequena, sem valor. Em espanhol, “chico” quer dizer “pequeno” (e, por extensão, “menino, criança”). No Brasil, “Chico” é o hipocorístico (apelido carinhoso) para Francisco – possivelmente tendo se originado desse “cisco” no final do nome, o que nos leva de volta ao “ciccus” do latim.

Já “Rodrigues” é um patronímico (literalmente, “nome do pai”), significando “filho de Rodrigo” (assim como Fernandes é “filho de Fernando”, Gonçalves é “filho de Gonçalo” etc). Rodrigo, por sua vez, tem origem germânica – e em todos os saites de nomes de bebês (ou seja, fontes não muito confiáveis) consta que signifique “príncipe poderoso”.

Dinheiro” tem sua raiz na expressão latina “denarius nummus”, depois abreviada para “denarius” (a moeda de prata que valia dez moedas de cobre, chamadas “asses”).  “Ass”, em inglês, quer dizer “burro” (o animal e/ou a pessoa burra), mas também o traseiro, o cu – e aí voltamos ao início deste texto sem pé nem cabeça que tentou juntar coisas nada a ver umas com as outras: cueca, propina, dinheiro, bunda, Chico, Rodrigues, corrupção cu e centrão.

Faltou a palavra “fezes”, do latim “faex” = excremento.  Mas aí era ir muito fundo no tema.

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