Inclusive

Muita gente criticou um vídeo sobre linguagem inclusiva, com as novas regras para a neutralização do idioma.

Machistas estruturais, homofóbicos crônicos, transfóbicos empedernidos, todos profundos desconhecedores do mistérios da linguagem e da neurolinguística, sentiriam que estariam sendo privados desse instrumento de opressão que é a língua de Camões, Vieira, Machado, Dilma e Carluxo.

Serenados os ânimos, apaziguados os espíritos, todos já devem ter compreendido que a linguagem neutra só trará benefícios, pondo fim à violência lexical e à polarização verbal.

Quem antes passava pela Glória, pela Avenida Atlântica e pela Praça do Ó, abria o vidro do carro e gritava “Traveco filho da puta!”, agora poderá abrir o vidro do carro e gritar “Traveque filhe de pute” – e isso não constituirá mais nenhuma ofensa, porque todo o caráter insultuoso terá sido neutralizado. Em vez de lhe erguer o dedo médio, as profissionais do sexo acenarão felizes, como misses na passarela, sentindo-se acolhidas na sua diversidade.

Quem poderá se sentir agredido/a/e ao ser chamado/a/e de “arrombade”? De “canalhe”, “escrote” ou “babaque”?  Toda a carga negativa, advinda do caráter sexista da língua, terá sido zerada, reduzida a pó.

Ao fim das manifestações contra e pró Freixo ou Crivella, Lula ou Bolsonaro, Fefito ou Giromini, a turma de vermelho e a turma de amarelo poderão se reunir para um chope na orla ou uma catuaba selvagem na Praça São Salvador, se tratando cordial e neutralmente de “petiste corrupte” e “bolsomínie fasciste”. Não haverá briga nem na hora de rachar a conta, porque o “garçom de merde” admitirá que houve um pequeno equívoco naqueles dois zeros a mais na quantidade de pedidos, pedirá desculpas em nome daquele “corne do caixa” e todos cantarão, com cantos e contracantos, o hino nacional e a internacional socialista.

Chame-o de “escrote”, e o guardinha não multará seu carro estacionado irregularmente.

Diga que ele é um “babaque”, e o segurança te deixará entrar (“Mas só desta vez, hein?”) sem máscara no shopping.

Explique que não curte “gorde”, e a moça não ficará magoada – e tampouco você se sentirá humilhado se ela fizer comentários sobre seu “mau hálite”, “falta de pegade” e “pau pequene”.

Por tudo isso, seu idiote, volte lá no vídeo e retire tudo o que disse. Graças àquele troca-troca de vogais, teremos finalmente a serenidade, o entendimento e o respeito de que precisamos para conviver civilizadamente. Tá esperando o quê, caralhe?

 #paz

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