Eu entendo os criacionistas – ou sua versão nutela, os adeptos do design inteligente.
A natureza é mesmo perfeita demais para ter sido obra do “acaso”, da “evolução”.
São inúmeros os exemplos de que haja uma intencionalidade, um desígnio por trás de cada coisa, e isso Darwin não explica.
Por exemplo, como pode a mão ter exatamente o mesmo formato da luva? A chuva vir de cima para baixo e deslizar perfeitamente pelo guarda-chuva? Existirem orelhas na posição exata para os aros dos óculos se encaixarem e um nariz bem no meio, sobre o qual ele possa se apoiar?
Só não acredita no design inteligente quem não quer. Veja as asas das borboletas, o voo do colibri, o pôr do sol, a voz do Henry Cavill, os olhos da Bruna Linzmeyer. Tudo isso só pode ter sido meticulosamente planejado, com pós-produção no fotoxope e renderização em 3DMax.
Somos fruto de um projeto muito bem elaborado. Os joelhos, que nunca dão problemas, são a melhor prova disso. A coluna, então, nem se fala. E essa sacada genial de termos o osso da canela desprotegido, na frente, e a batata da perna, a parte acolchoada, para trás? Não é coisa de gênio?
Outra ideia magistral do criacionismo foi vincular a reprodução ao sexo. Se a falácia da evolução fizesse sentido, poderíamos ter eventualmente “evoluído” para seres que se reproduzissem através de outros meios. Imagine você e a patroa – ou você e o mozão – naquela lombeira boa pós orgasmo, concordando em ir juntos fazer uma colonoscopia – ou um tratamento de canal, ou – pior ainda – ouvir um CD da Ana Carolina – a fim de conceberem o Júnior e a Maria Eduarda. Não fosse o design inteligente, que botou num único pacote os hormônios, o tesão, a ovulação, a ejaculação e a falta de juízo, Adão, Eva, a cobra e a maçã estariam até hoje jogando biriba no Éden, só os quatro, e a Humanidade, essa maravilha, jamais teria existido.
As constelações foram criadas para que pudéssemos ler o horóscopo antes de ir pro trabalho, fazer mapa astral e saber que devem ser evitados os homens de Touro e as mulheres de Escorpião (trans, sejam de que signo forem, não podem ser evitadxs, pois é transfobia).
A Terra foi feita sob medida para que que nela possamos viver e dela desfrutar. Daí os terremotos, vulcões, furacões, chuvas torrenciais, tsunamis, avalanches, deslizamentos, descargas elétricas, incêndios florestais. Sem esquecer os desertos – tanto os escaldantes quanto os congelados – que ocupam 20% da superfície do planeta e existem para… para… bem, existem para programas do Discovery.
Há também o fato de a espécie humana não viver sem água e só 3,5% da água do planeta serem próprios para consumo humano – 96,5% foram colocados aqui – neste planeta feito especialmente para nós – para termos onde pescar, surfar, velejar, nos afogar e pular sete ondas no reveiôn (que, convenhamos, são coisas muito mais importantes que matar a sede).
A atmosfera foi desenhada com 120 km de altura, e 2,5% dessa altitude tem oxigênio em quantidade suficiente para a vida humana. 97,5% foram desenhados para que tivéssemos céus azuis para nossa selfies. É ou não é um toque de mestre? Sem contar que bastam dois minutos sem respirar para que a gente desmaie. Claro que há os mergulhadores profissionais, que aguentam dez vezes mais, mas você não é mergulhador/a profissional, é? Nem eu.
Somos o ápice da Criação. Os seres mais evoluídos, mais CDFs, e mais fodões. Tanto é que são poucas as outras criaturas capazes de nos matar. Apenas os leões, leopardos, linces, rinocerontes, hipopótamos, onças, elefantes, crocodilos, tubarões, cobras, escorpiões, aranhas, bactérias, vírus do ebola, HIV, marburg, hantavírus, coronavírus, H5N1, o da dengue, o da raiva, e alguns milhares de outros, bem como toxinas mis.
Claro que o tubarão tem dentes descartáveis e nós não. Panda digere bambu, e nós morreríamos intoxicados. Planárias, estrelas do mar, salamandras e lagartixas regeneram partes do corpo, e nós precisamos de próteses mecânicas. Ursos, minhocas, esquilos, lagartas, morcegos desaceleram o metabolismo, provocando uma queda radical da frequência cardíaca e da respiração e hibernam. Tirando um e outro faquir (você conhece algum?), nenhum de nós consegue fazer isso. Aliás, vagalume acende luz na bunda – coisa que você também não faz.
Mas ninguém até hoje provou a origem do protoplasma inicial – logo, foi o design inteligente. Nem o do sistema óptico, das asas com penas, do funcionamento das proteínas, da coagulação sanguínea ou do flagelo bacteriano. Logo, foi o design inteligente.
Também não havia, até pouco tempo atrás, explicação sobre como aconteciam as epidemias, o que vinham a ser os trovões, o que causava os terremotos – mas o design inteligente nos fez inteligentes o suficiente para descobrir a causa e concluir que não fora o design inteligente.
O design inteligente é tão, mas tão inteligente que conseguiu criar seres humanos capazes de acreditar nele. Se isso não prova sua existência, nada mais provará.
(Tipo de post que é melhor comentar por aqui para não chocar ou provocar parte dos amigos.)
É muito bacana ler sobre a evolução ocorrida e as expectativas de alterações do corpo humano, como: os dentes do siso, os dedos mindinhos.
Fez sucesso, há alguns anos, o vídeo de uma aula de Biologia na qual o professor relacionava a mudança do lugar da vulva no corpo feminino com a permanência do macho junto à fêmea e às crias. A posição anterior levava à cópula por trás, sem ver os olhos, as emoções e sensações. Era natural partir depois de copular. Então a vulva mudou de posição e os casais passaram a se enxergar, criando conexões e famílias. A cópula por trás e o sexo anal passaram, em linhas gerais, a representar agressão/castigo/promiscuidade. Tudo muito interessante.
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Sensacional, Eduardo. O tal do design inteligente e de uma tosquice fora do normal hahaha. Para os criacionistas tomarem tenencia!
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O design inteligente e tão poderoso que arquitetou o Big Bang com maestria.
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Não sei se o design inteligente é, ou não é, uma pseudociência. De qualquer forma, se faltar resposta é só dizer que “Deus quis que fosse assim”.
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Não quis comentar lá na sua página, para não gerar mais lero-lero ainda. Escrevi um post na minha página com direito a amigos de amigos verem, na tentativa de que você pudesse ver, mas não sei se funcionou. Fiz um malabarismo na configuração da privacidade do meu post para não ficar visível para os meus amigos… também não quero lero-lero na minha página… hahaha
Aqui é mais tranquilo.
Detesto proselitismo, tanto para defender religião quanto para atacar; só escrevo isso aqui porque o considero uma ótima pessoa, inteligentíssimo e respeitoso. Nem sei bem o que é o tal de “design inteligente”, vou ter que pesquisar. Minha resposta é mais para o seu post complementar.
Só queria registrar que a Igreja Católica aceita a evolução das espécies, de Darwin, vários papas já se pronunciaram sobre isso. Os católicos todos eu não sei, estou falando da posição da Igreja, que tem abertura “científica” com relação à ciência.
Há/houve muitos padres cientistas. Quem primeiro falou do Big Bang foi um jesuíta belga (Padre Georges Lemaître). Esse nome Big Bang foi dado em deboche ao que ele tinha proposto, nem Einstein aceitou, na época. Depois, a aceitação foi geral, surgiram outros que corroboraram.
A ciência não me impede de acreditar em Deus nem que ele tenha criado o Universo, mas não é esse “criacionismo” de que falam, não.
A Igreja Católica não me impede de pensar como eu penso, por exemplo. Há maneira de conciliar as interpretações com as observações. Que antes do Big Bang tenha ocorrido algum erro catastrófico, cometido pela humanidade de então. Em seguida à perda, o universo tenha se reiniciado com o Big Bang, mas com imperfeições, sequelas do erro (o erro chamado original, que nada tem a ver com sexo – a igreja não fala que tem a ver com sexo, nunca falou, não sei por que sempre redunda nisso nas brincadeiras). Aí, após a reiniciação, deu nesse processo todo da evolução das espécies, que constatamos, entre outras coisas, tudo cheio de defeitos, incluindo a morte.
É muita coisa para explicar, me dá um pouco de preguiça. Já escrevi tanto sobre isso no meu blog, saturei. Estou sem paciência, sorry.
Só mesmo para registrar que a Igreja Católica não é contra a ciência, muito pelo contrário.
Vou apagar meu post lá na minha página, já que escrevi aqui.
Abraço, prend soin de toi.
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Também para complementar (acho que isso posso colocar lá nos comentários).
A Igreja Católica já errou muito, no passado, com relação à ciência, mas tem-se reabilitado ultimamente, sem intervenções nos achados da ciência. Aprendeu muito.
Penso que o segredo de tudo é a humildade. A gente fica tentada a compreender (como eu que já gastei tempo demais com isso), mas na verdade não sabemos nada.
Achei umas páginas que falam do padre belga que mencionei, numa delas há uma resposta muito interessante que ele deu ao Papa:
“As far as I can see, such a theory remains entirely outside any metaphysical or religious question. It leaves the materialist free to deny any transcendental Being… For the believer, it removes any attempt at familiarity with God… It is consonant with Isaiah speaking of the hidden God, hidden even in the beginning of the universe.”
https://www.amnh.org/learn-teach/curriculum-collections/cosmic-horizons-book/georges-lemaitre-big-bang
Na outra página, link abaixo, fala-se de como deram o nome “Big Bang” em deboche ao padre:
https://www.pourlascience.fr/sd/histoire-sciences/lunivers-selon-georges-lemaitre-5590.php
Existe muito material sobre isso na internet, é só googlar.
Espero ter ajudado em alguma coisa.
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Dr Pangloss, no “Cândido” de Voltaire, o eterno “otimista”. Um primor que, incrivelmente, foi escrito em três dias. Acredito que tenha lido, claro. Stephen Jay Gould usou Pangloss como metáfora para criticar parte do pensamento evolutivo da época (anos 70 e 80). Um exemplo aqui: https://en.wikipedia.org/wiki/The_Spandrels_of_San_Marco_and_the_Panglossian_Paradigm
(não sei como traduzir “spandrel”).
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Esses são argumentos teológicos: Deus deveria ser assim ou assado. A Teoria do Design Inteligente é científica, requer, portanto, contra-argumentos científicos.
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