“White people problems” são os problemas dos outros – não importa a cor da pele.
Um preto que reclame que bateu o carro está tendo “white people problems”, porque pobrema mermo é pegá duas condução pra chegar no trabalho.
O que, por sua vez, é “white people problem” pra quem teve que fazer baldeação na Central vindo de trem do ramal Japeri, e vai a pé até a Praça 15 pegar a barca pra tentar arrumar emprego em São Gonçalo.
Qualquer perrengue que a gente conte no FB é “white people problem” (doravante chamado apenas de WPP) para alguém que teve um perrengue ainda maior. Ou menos divertido.
Meu WPP de hoje foi um exame de risco cirúrgico. Um dos exames, porque é uma bateria, cada um feito num lugar diferente – WPP dos bons, já que o plano cobre (de má vontade, mas cobre), e problema mesmo seria ir para a fila do SUS.
7h30 da manhã no Arpoador, depois de engarrafamento em São Conrado (WPP dos brabos!).
– Bom dia, tenho um eletro agendado para agora, 7h30 (era para chegar meia hora antes, mas não deu).
– Seu nome?
– Sidney Affonso (tenho que usar o primeiro nome, fazer o quê?)
– A médica não veio.
– Então está cancelado o exame? (levantei às 5h30, tomei café no galope, saí sem escovar os dentes, peguei engarrafamento e ninguém manda nem um zap pra avisar que a médica não apareceu? Bom, problema mesmo seria ter passado a noite em claro, o pó de café ter acabado, não ter dentes e o celular estar sem crédito até para receber zap).
– É.
– Não tem outra médica?
– Vou ver.
Consulta o terminal, disca para alguns ramais que não atendem, por fim se levanta e vai ver pessoalmente.
– Não, é só ela que faz eco.
– Mas eu não vim fazer eco. Vim fazer eletro.
– O senhor falou eco.
– Não, eu falei eletro.
– Falou eco, sim, sr. Sílvio!
(Respiro fundo. Mentalizo um palavrão. Na verdade, uma expressão envolvendo uma prestadora de serviços sexuais remunerados que deu à luz. Expiro.)
– Eu não me chamo Silvio, e não vim fazer um eco. Vamos começar tudo de novo. Bom dia. Meu nome é Sidney, e eu vim fazer um eletro. (O eletro não vai prestar, porque, apesar de eu falar pau sa da men te, o coração está acelerado).
Ela consulta o terminal, e está lá o Sidney e o agendamento do eletro.
– Ok, a carteirinha do convênio, a identidade e a requisição do médico, por favor. (Pelo tom de voz, e pela dureza do “por favor”, ela ainda tem certeza de que eu disse que era Silvio e queria fazer um eco).
Entrego a requisição – e é a de outro exame, para outro dia, em outra clínica.
Pelo menos estava uma manhã linda no Arpoador. E, mesmo sem ter direito, passei na recepção e filei um capuccino com bolo de chocolate.
WPP me parece uma expressão meio desgostosa, que precisa, desesperadamente, de um consolo.
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