Eu queria, como a Cecília Meirelles, escrever crônicas sobre o bem-te-vi moderno, que cantava só “te-vi”, e seu companheiro gago, que enchia a poeta-cronista de espanto ao trinar “bem-bem-bem ti-ti-ti vi-vi-vi”. Queria escrever assim, libérrimo e exato, sobre esses extraordinários fatos banais.
Sonhava ser um Veríssimo, e me travestir de velhinha de Taubaté, de D. Casemira (e seu cachorrinho existencialista, o Dudu), de detetive Ed. Mort, da ravissante Dora Avante, do analista de Bagé – coisas de que só um tímido incurável é capaz.
Mas o que eu queria mesmo ser era o Carlos Eduardo Novaes.
Como Millôr, ter para tudo uma frase definitiva. E tiradas geniais. Ser um Ivan Lessa, um Sérgio Augusto, e escrever no Pasquim – ai, pobre de mim, perdido nos confins de Minas Gerais.
Ir do trivial ao sublime, da poesia à prosa, feito Drummond, sem nunca soar prosaico, e sem deixar de ser poético jamais.
Como Quintana, saber que as coisas passarão, e eu passarinho. Como o Leminski, não fazer versinhos normais.
Mas o que eu queria mesmo ser era o Carlos Eduardo Novaes.
E ser muitos, ser todos, à la Fernando Pessoa. Como o sobrenatural Nelson Rodrigues, traduzir a vida como ela é. Ver o mundo com o lirismo do Paulo Mendes Campos. Produzir os biscoitos finos que Rubem Braga publicava nos jornais.
Ter a elegância do Art Buchwald, a sutileza da Clarice Lispector; a leveza da Danusa Leão. Não faltar ao encontro marcado com a inspiração, como Fernando Sabino. Viver feliz e morto de paixão, como Vinícius de Moraes.
Mas o que eu queria mesmo ser era o Carlos Eduardo Novaes.
Feliz 13 de agosto, do fã de desde sempre, e cada vez mais.
Sensacional! Sempre me imaginei assim, sendo um desses magos das letras; aliás, sempre me incentivaram a tentar isso, afinal “eu escrevia tão bem!” A vida, porém, me levou por outros caminhos: conduziu-me a ser, em vez de escritor admirado, um leitor crítico (e chato), principalmente do “português” de alguns desses ícones e tantos jornalistas. Hoje, dois anos depois de ser considerado “velho” na universidade em que trabalhei durante 30 anos e quase um ano após “O GLOBO” dispensar minha coluna (“Autocrítica”), você me fez recordar essa vontade, me fez ter vontade de tentar novamente esse sonho. Obrigado por me trazer o sonho de volta! Abraços!
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Linda homenagem para o aniversariante do dia!
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