Fama vem do grego “pheme”, que quer dizer simplesmente “notícia” – ou fala, rumor, reputação. O verbo “phánai” significava “espalhar pela palavra”.
Famoso é aquele (ou aquilo) de quem se fala – não necessariamente bem (para os mal falados se inventou a palavra “infame”).
Em Roma, o status de uma pessoa era definido não só pela fama, mas também pelo seu poder e seu prestígio.
Poder (do latim “potis”) quer dizer “ser capaz de” e deriva do grego “pótis” (“marido”) e “despotés” (“senhor, chefe da casa”, de onde se originou “déspota”). Sim, “poder” é uma palavra machista, mas fazer o quê, se as próprias feministas se apoderaram (!) dela quando resolveram se empoderar?
Prestígio é que é boa reputação. Mas não devia: vem de “praestigiae” (“truques, atos de destreza, de malabarismo”). Originalmente, era sinônimo de engano, ilusão, obra dos mágicos, dos prestidigitadores. Daí ter ganho o sentido de impressionar, ter influência sobre os outros.
Em Roma, era preciso o pacote completo (ser falado, obedecido e causar boa impressão), cercando pelos 3 lados. Hoje, basta um desses atributos e a pessoa já se acha uma celebridade (do latim “celebritas” = “multidão, muito repetido”).
A fama (o equivalente a “ser notícia”) às vezes depende de esforço. Outras, do acaso. Ou até da desgraça.
Quem tem mais de 60 se lembra de quando Penha e Pavuna eram famosas – uma, por causa de uma fera; outra, por uma noivinha.
Abadiânia de Goiás ficou famosa por fenômenos paranormais (ou apenas anormais). Varginha, por fatores extraterrestres.
Atibaia, pelo sítio de um amigo. Araraquara, por uns arapongas de araque.
A Ladeira do Sacopã deve sua fama a um crime. A Rua Tonelero, a um atentado. O Carandiru, a um massacre.
Taubaté, a uma grávida e uma velhinha. Bagé, a um analista. Ipanema, a uma garota.
Andy Warhol, na década de 60 (muito antes do insta e das selfies e dos digital influêncers) disse que “um dia, todos terão direito a 15 minutos de fama” (não necessariamente de poder e de prestígio).
Já morei em lugares famosos – sem precisar me mudar para Beverly Hills, Notting Hill ou Manhattan. Lugares que tiveram só seus 15 minutos mesmo.
Unaí poderia ser famosa pelo seu calor diabólico, seus flamboiãs e cajueiros, sua pamonha salgada, seu requeijão moreno, suas pelotas de cabrito. Mas chegou ao Jornal Nacional por uma chacina, quando o prefeito mandou matar 4 fiscais do Ministério do Trabalho.
Andrelândia merecia manchetes pelo frio do cão, o casario colonial, a procissão de Corpus Christi, o sítio arqueológico, os “veados” e “caranguejos” (um dia eu explico). Mas ganhou fama efêmera por uma seita que escravizava seus fiéis.
Esmeraldas tem a Folia de Reis, a Fazenda Santo Antônio, os mascarados no Carnaval, um dialeto próprio (ô bondade!), mas só se ouviu falar dela quando o goleiro Bruno a escolheu para cenário de um assassinato e o sumiço de um corpo.
Fama era também uma deusa romana, mensageira de Júpiter. Tinha asas enormes, com um olho em cada pena. E tantas bocas e orelhas quantos olhos, e voava sem descanso, espalhando mentiras e verdades, misturadas.
Essa fama eu queria. Nem que fosse para tornar mais sincrético meu altar doméstico, que já conta com Sf. Ioan cel Nou de la Suceava (São João de Suceava), Nossa Senhora de Luján, São Jorge e Iemanjá.
O poder só me interessaria se viesse junto com o amor – mas o amor e o poder parecem fora de cogitação, agora que a Rosana (apesar das dedicatórias apaixonadas de 10 anos atrás) nem se lembra mais de mim.
E queria prestígio também. Mas aquele com recheio de coco e cobertura de chocolate.
Eu detesto chocolate prestigio. Adoro coco, e adoro chocolate, mas acho que um estraga o outro, com exceção de German Chocolate Cake. O texto, pra variar, é ótimo. Me impressiona a sua memória.
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Mais prestígio? Só mesmo se for com recheio de côco e cobertura de chocolate!
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