Numa coisa quase que temos que dar razão às feministas extremistas fundamentalistas radicais do politicamente correto: nossa língua parece machista.
As palavras no masculino têm sempre um peso maior, um significado mais importante.
Mentalize, por exemplo, ”o jantar”.
Mesa bem posta, talheres alinhados (mesmo que não tenhamos a menor ideia de como usá-los), guardanapos (de linho) dobrados, umas taças de cristal, quem sabe velas. E comida da boa. Normalmente pouca e cara, mas boa.
Agora pense em “a janta”.
Será invariavelmente algo requentado do almoço, pra se comer na cozinha, ou com o prato apoiado nos joelhos vendo novela bíblica da Record no sofá de napa, com talher de cabo de plástico e Tang no copo de massa de tomate.
Mesma coisa com a tesoura, pobre operária da costura, e o tesouro – que, obviamente, nunca trabalhou na vida.
Ou o chinelo, que vai se desgastando, perdendo as tiras e ganhando cheiro, até chegar ao nível mais degradado da sua existência, quando então muda de gênero e vira a chinela.
A lista vai longe.
O porto e a porta; ele se abrindo para os mares; ela, apenas para outro aposento.
O manto que cobre reis; a manta, as pernas dos plebeus.
Do poço, tira-se água potável; na poça, molham-se os pés na água suja.
No horto cultivam-se plantas ornamentais; na horta, couve, chicória, salsa e cebolinha.
O que as feministas fingem ignorar é que sexo é coisa biológica, e gênero, categoria gramatical.
Ao insistir no “todos e todas”, esquecem que o masculino é um gênero não marcado (é um presumível genérico: engloba seres de ambos os sexos), enquanto o feminino é exclusivo.
“Um homem prevenido vale por dois” refere-se a toda a humanidade, sem ser necessário especificar que a mulher prevenida também valha por duas. Já “com mulher de bigode nem o diabo pode” mostra que a recíproca nem sempre é verdadeira (vide o caso do Ned Flanders e do Seu Madruga).
Pense nisso na próxima vez em que ouvir “companheiros e companheiras”, “senhores ministros e senhoras ministras”, “nobres colegas e nobres colegas”.
Quando o vácuo toma conta do cérebro, a vaca vai pro brejo.
(publicado originalmente em 25 de abril de 2018)
Eu me perco no mundo de Eduardo Affonso, não consigo identificar o meu texto preferido…
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“Homo Sapiens e Mulher Sapiens”, da presidentA!
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Cara, sou seu fã!!!
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Excelente texto, parabéns!
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