Leio agora numa reportagem do UOL sobre a série “The Crown” que o rei Eduardo VIII “resignou” ao trono.
Ele podia até estar resignado com o fato de não poder manter a coroa e se casar (por amor ou por conveniência) com uma divorciada americana – mas o que ele fez, em bom português, foi abdicar.
Mais abaixo, informa-se que outro personagem “eventualmente” se mudou para a Austrália.
O texto original devia conter o advérbio “eventually”, que significa “afinal”, “por fim”, “finalmente”, “depois de muita delonga”.
Eventualmente, jornalistas brasileiros que antes só pagavam esse mico com “actually”, atualmente deram de pagá-lo também com o “eventually”.
O que será que houve com os tradutores?
Foram substituídos pelo o Bing ou pelo Google Translator?
Senão, como explicar que os atores agora sejam “nomeados” para o Oscar (e não “indicados”, como sempre foi)?
Brasileiros ainda batizam os filhos, mas quando se trata de filhos de personalidades estrangeiras, eles são é “nomeados” – como se nomeia um primeiro-ministro, por exemplo.
Só “realizei” isso há alguns anos, quando o neto da rainha da Inglaterra foi “nomeado” George.
Porque “to realize”, que sempre quis dizer “compreender”, “dar-se conta de”, agora é “realizar” mesmo. As pessoas realizam que o sucesso não é tudo – ou realizam a força que tem uma paixão (como cantou, premonitoriamente, o Lulu Santos).
Hoje também ninguém mais fica arrasado, sentido ou desconsolado quando uma celebridade morre: fica “devastado”. E a devastação é maior que a da Amazônia, não só pela quantidade de celebridades que tem morrido como pela leviandade com que se traduz no piloto automático.
Não demora, vamos “datar” com alguém (em vez de ir a um encontro), fazer “apologia” quando quisermos pedir desculpas, ir a um “apontamento” quando tivermos um compromisso, nos “enrolar” quando formos nos inscrever, “aplicar” ao preencher um formulário, ficar “injuriados” quando sofrermos algum acidente, comprar “medicinas” na farmácia, ter “prejuízo” contra negros & gays, e achar “esquisito” algo que for muito bom.
Abaixo as traduções automáticas.
Eu “suporto” esta ideia.
Oi Eduardo, tudo bem?
Como faço para enviar um email para você?
Obrigada!
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