“- Primeiramente, fora Teme…
– Questão de ordem, companheiro! Quero democraticamente colocar em votação uma proposição para atualizar a nossa saudação para “Fora, Bozo”.
– Muito construtiva e democrática a sua colocação, camarada, mas não acho que a gente deva desperdiçar esses últimos 20 dias de “Fora Temer”, que é uma saudação antifascista popular e que evoca as melhores lembranças da luta revolucionária contra o golpe.
– Companheiro, em nome da classe trabalhadora, lembro que o golpista não apita mais nada, e temos que, democraticamente, direcionar desde já o ódio de classe ao governo reacionário, repressor e autoritário que ainda não começou.
– Tamo junto na guerra democrática contra o imperialismo patriarcal estadunidense, camarada, mas não dá para derrubar um presidente antes que ele seja pelo menos empossado. Por isso, primeiramente, fora Tem…
– Um aparte, companheiro. Seu raciocínio é antidemocrático, alienado e burguês. Quanto antes implementarmos o “Fora Bozo”, mais irreversível será o levante popular.
(Palmas, gritos, vivas, abaixos e rexitegues variados, variadas e variades no recinto)
– Então tá, camarada. Se é no interesse comum e do conjunto da sociedade, na defesa da nossa soberania, dentro do espírito do centralismo democrático, primeiramente… fora Coiso!
– O que é isso, companheiro? Como assim?
– Como assim o quê, camarada?
– Não é “Fora Coiso”. É “Fora Bozo”.
– “Bozo” é apropriação do colonialismo cultural ianque, um personagem da mídia neoliberal detentora do capital especulativo. “Coiso” é que é coisa nossa, afro-ameríndio terceiro-mundista inclusivo e gramaticalmente desopressor. Vai ser “primeiramente, fora Coiso”, sim. “Fora Bozo” é golpe!
– Companheiro, a plenária votou minha moção por “fora Bozo”, não “fora Coiso”. Levantar uma bandeira divergente é voluntarismo!
(Vaias, apupos, salves e pancadarias diversas, diversos e diverses no recinto)
– Ok, ok, companheiros, companheiras e companheires, camaradas, camarados e camarades, vamos levantar uma questão de esclarecimento para o encaminhamento de um indicativo para a pauta da plenária do conselho da próxima assembleia que vai deliberar (ou não) sobre “fora Bozo” ou “fora Coiso”.
– Mas a assembleia do conselho da plenária da pauta do indicativo do encaminhamento da questão levantada só vai rolar em outubro, depois do parabéns pra você da gloriosa revolução bolchevique! Até lá o Temer já vai estar preso, babaca!
– Temer não é uma pessoa. É uma ideia. É símbolo da luta participativa das minorias progressistas contra a exploração dos excluídos e pelo aprofundamento da crise do capitalismo. O “fora Temer” fica!”
(Uivos, assovios, sopapos e cusparadas de todos os tipos, tipas e tipes no recinto).
~ ~ ~
– E é por isso, minha netinha, devido ao seu imenso valor histórico e afetivo, que até hoje, decorridos mais de 50 anos do golpe, ainda usamos essa saudação, o “primeiramente, fora Temer”.
– E quem era esse tal de Coiso, vovó?
– Era um bicho papão. Agora come seus cornifleiques sintéticos, veste seu traje espacial vermelho, pega sua bandeira holográfica com a estampa do Che e vem com a vovó protestar. E não esquece de colocar, por cima do capacete, o seu bonezinho do “Movimento dos Sem Terra”. A gente já está morando em Marte, mas tem coisa que não se muda assim, de uma hora pra outra.